DOAÇÃO
DOAÇÃO - ÚNICO BEM - VÍCIO DE
CONSENTIMENTO ART. 538 NCC - ART 548
NCC - LEI 10406 02
Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da ...
Vara Cível da Comarca de ..., Estado de ...
CRISTINA, nacionalidade..., estado civil ...,
profissão ..., RG ..., CPF ..., residente e domiciliada
na rua .... nº ...., Bairro ...., na Cidade de ...., Estado
de ...., por seu bastante procurador e advogado, ao
final assinado (mandato de procuração anexo), vem,
com respeito e acatamento de estilo à presença de
Vossa Excelência, nos termos do artigo 282 e
seguintes do Código de Processo Civil e artigo 548
do Código Civil, propor a presente
ANULAÇÃO DE DOAÇÃO
em face de ...., (qualificação), residente na Rua .... nº
...., na cidade de ...., Estado do ...., na qualidade de
representante legal de sua filha, menor impúbere, ....
pelos motivos de fato e de direito que passa a expor:
I - DOS FATOS
1.1. Proprietária do imóvel situado na Rua .... nº ....,
com .... anos de idade, (qualificação), sem
ascendentes ou descendentes, recebendo a
aposentadoria de R$ .... (....), conheceu a família da
Sra. .... em ...., e com ela manteve relação de amizade
durante anos.
1.2. Em ...., batizou ...., filha da suplicada e seu
esposo ....
Como era muito bem tratada pela família dos agora
compadres, permitiu que viessem morar em sua
residência, sob o compromisso de arcarem com as
despesas da casa.
1.3. Em ...., envolvida sentimentalmente pela sua
afilhada, condoída pelo precário estado de saúde do
seu compadre, aceitou quando lhe foi proposto que
doasse a casa à sua afilhada ...., com o forte
argumento que estaria sempre protegida e, também,
ser aquela sua única "família".
Somando-se a estes argumentos, acreditava que se
doasse a casa à menor impúbere, sua afilhada,
poderia melhorar as condições de saúde de seu
compadre, pois além da doença, dizia que sua grande
dor era saber que sua família não tinha casa própria
para morar.
Todo esse ambiente e a promessa que já possuía uma
família, levaram a autora a fazer a doação do único
fruto de quarenta e cinco anos de trabalho.
1.4. Logo após a doação, o pai da donatária veio a
morrer e com ele a promessa de uma velhice
amparada e tranqüila. Percebeu então, que a situação
de amizade e carinho que a induzira doar sua casa
fora um ardil, pois passou a ser tratada como uma
intrusa dentro do imóvel doado, mas possui o
Usufruto Vitalício.
1.5. Após a doação foi obrigada a participar das
despesas, ninguém da família da donatária conversava
com a autora, que inclusive era mandada embora,
pois a casa não mais lhe pertencia.
1.6. A situação se agravou quando a suplicada
desvirtuou o uso do imóvel, instalando no local, uma
TENDA DE UMBAMDA de nome ...., tendo seu
filho .... como presidente e a própria suplicada como
vice-presidente, (fotocópia dos Estatutos,
composição da diretoria em anexo).
Assim, a requerente se encontrava numa situação
dramática, era intrusa no imóvel em que tinha o
usufruto vitalício e era obrigada a conviver com
trabalhos e práticas umbandistas que se contrapunham
à sua formação religiosa.
1.7. Vizinhos penalizados com a situação da
requerente encaminharam-na para o Serviço de
Assistência Jurídica Gratuita que por acúmulo de
serviço marcou o prazo de noventa dias para
atendimento do seu caso. Foi quando, encaminhada
pelo seu amigo ...., veio até o seu atual procurador e
advogado, que promoveu, inicialmente junto ao MM.
Juízo da .... Vara Cível a competente Notificação
Judicial denunciando o rompimento do comodato
verbal e dando o prazo de trinta dias para
desocupação amigável do imóvel, posteriormente
tendo em vista não atenderem os termos da
Notificação, ingressou no exercício de seu usufruto
vitalício, com a Ação de Reintegração de Posse no
MM. Juízo da .... Vara Cível desta Capital, tendo,
então, através de acordo, a suplicada desocupado o
imóvel.
II - SITUAÇÃO ECONÔMICA DA
REQUERENTE
A requerente, conforme já foi relatado, está com ....
anos de idade e recebe do INSS como aposentada a
quantia de R$ .... (....), quantia esta insuficiente para
sua sobrevivência pois tem necessidade de assistência
médica que o órgão previdenciário não oferece.
Sendo sozinha, tem consciência que em breve terá
que viver em estabelecimento próprio para pessoas
de sua idade. Porém, só lhe resta o abrigo de velhos,
pois o único bem material que possuía, sua casa,
doou, por captação maliciosa da sua vontade.
A promessa de assistência material e amparo na
velhice, fez a requerente doar o único bem que
possuía. Se não tivesse sido induzida a doar a casa,
teria agora um bem material que poderia servir de
garantia de uma velhice digna.
III - A ESCRITURA PÚBLICA DE DOAÇÃO
A escritura de doação, conforme demonstram as
fotocópias anexas, ficou subordinada a quatro
condições:
1º - A Donatária obriga a manter o imóvel e
benfeitorias sob reserva de usufruto vitalício, só por
morte dela, doadora, se extinguirá;
2º - O cumprimento da condição ora imposta só se
resolverá por ato entre vivos da donatária e da
doadora, quando esta completar 21 anos de idade e
obriga-se a destinar o imóvel para moradia sua e de
seus familiares;
3º - Que o uso do imóvel doado para outras
finalidades que não sejam as estipuladas na cláusula
anterior, importará na sua devolução e reversão a
doadora sem que a donatária possa pleitear quaisquer
ressarcimento ou vantagens por benfeitorias por acaso
feitas;
4º - Que completada a idade de 21 anos ou falecida a
doadora, os herdeiros e nem ela nada mais poderão
reclamar, considerar-se-á a doação com plena para
todos os efeitos legais, incorporando-se plenamente
ao patrimônio da donatária.
Também consta da escritura de doação que a
doadora possui bens necessários para seu sustento.
IV - FUNDAMENTOS DO PEDIDO
A requerente fundamenta o pedido de ANULAÇÃO
DA DOAÇÃO em dois fundamentos:
1º - NA DOAÇÃO DE TODOS OS BENS COM
CAPTAÇÃO MALICIOSA DA VONTADE DA
DOADORA
2º - NA EFICÁCIA DA CLÁUSULA 3º E 4º DA
ESCRITURA DE DOAÇÃO QUE PREVIU A
DEVOLUÇÃO E REVERSÃO PARA DOADORA
CASO O BEM FOSSE UTILIZADO PARA
OUTRAS FINALIDADES QUE NÃO
ESTABELECIDAS NA CLÁUSULA 2º.
IV.1 - DOAÇÃO DO ÚNICO BEM MATERIAL
Preclaro Julgador, a sapiência do legislador previu as
irreflexões e imprevidências do doador, contra as
habilidosas captações dos donatários, ao estabelecer
no artigo 1.175 do Código Civil que:
"É nula a doação de todos os bens, sem reserva de
parte, ou renda suficiente para a subsistência do
doador."
A requerente doou o ÚNICO BEM, pois a
aposentadoria de R$ .... (....), não pode ser
considerada como meio que lhe dê recursos para
subsistir, assim como a reserva do usufruto vitalício
não representa para a requerente qualquer renda para
sua subsistência, pois a casa apenas dá à requerente
um teto para morar.
O intuito da lei, fácil é perceber, não é outro senão
evitar que o doador venha sofrer as conseqüências da
sua liberalidade exagerada. Por isso mesmo, não
dispõe para o presente, mas prevê o futuro, querendo
evitar o mal que acontece, normalmente, na época em
que a pessoa não pode mais produzir, sendo obrigada
ao repouso por imposição da natureza.
"Data venia", não será a reserva do usufruto vitalício,
bastante para se considerar que o doador possui com
esse usufruto meios necessários para o repouso de
uma velhice tranqüila. Mas, será bastante e suficiente,
para, livre e desembaraçado, ser vendido e com o
fruto da venda permitir o recolhimento num lar
particular, para pessoas idosas, quando isto se tornar
necessário.
IV.1.1 - CAPTAÇÃO MALICIOSA DA
VONTADE DA DOADORA
Doação é o contrato pelo qual uma das partes se
obriga a transferir gratuitamente um bem de sua
propriedade para o patrimônio de outra, que se
enriquece com a perda.
No magistério de CARVALHO SANTOS, ao
comentar o artigo 1.165, "in verbis":
"A doação é um contrato, dispõe expressamente o
texto supra, daí outra conseqüência de elevado
alcance: como em qualquer contrato em que se
verifica um erro capaz de viciar o consentimento
resulta a nulidade da doação."
De fato, CLOVIS BEVILAQUA, ("in" Código Civil,
vol. IV/34000) professa a lição de que as doações
"Anulam-se, quando viciada por erro, dolo, coação
ou simulação."
IV.2 - BEM DOADO É UTILIZADO PARA
OUTRA FINALIDADE
A cláusula 3º da Escritura de Doação estabeleceu que
"o uso para outras finalidades que não sejam as
estipuladas nas cláusulas anteriores, importará na sua
devolução e reversão a doadora ..."
Não bastasse ter doado com a captação maliciosa da
vontade, o único bem que possuía, também viu o
imóvel construído com .... anos de suor e trabalho ser
utilizado para prática de UMBANDA e MACUMBA
pela suplicada, que sem respeitar a idade da
requerente, obrigava a conviver, dentro de sua
própria casa, com práticas que feriam a sua formação
religiosa.
Quando a suplicada instalou na casa uma Tenda
Espírita, desvirtuou o uso do imóvel.
A Tenda de Umbanda Pai ...., que tinha a suplicada
como vice-presidente e seu filho .... como presidente,
instalada no imóvel doado, permite, por si só, a
anulação da doação e a conseqüente devolução à
doadora.
V - DO REQUERIMENTO
Face ao exposto e provado, quer propor, como
proposto tem, a presente Ação Ordinária de
Anulação de Doação, razão pela qual pleiteia:
a) A citação da suplicada, através da Carta Precatória
ao Juízo da Vara Cível da Comarca de ...., Estado do
...., para no prazo de lei e sob pena de revelia,
apresente defesa, tudo através de Mandado;
b) O provimento da presente ação para anulação da
doação, com a condenação da suplicada no
pagamento das custas e honorários advocatícios de
20% sobre o valor da causa.
Para provar, além dos documentos que anexa a peça
inicial, protesta por todos os meios em direito
admitidos, principalmente, depoimento pessoal da
suplicada, pela oitiva das testemunhas, cujo o rol
apresenta desde já.
Dá à causa o valor de R$ .... (....).
Nestes Termos,
Pede Deferimento
Local e data.
(a) Advogado e n° da OAB
ROL DE TESTEMUNHAS:
1) ...., (qualificação), residente e domiciliado na Rua
.... nº ...., Bairro ...., na Cidade de ...., Estado do ....;
2) ...., (qualificação), residente e domiciliado na Rua
.... nº ...., Bairro ...., na Cidade de ...., Estado do ....;